Bom dia!!!
Hoje é dia de Texto (para orientação, reflexão e ajuda na educação das crianças).
O texto é um pouco longo, mas vale a pena a leitura. Muito informativo e nos dá base da importância do brincar.
Boa leitura, ou seria boa viagem...
BRINCAR:
UMA VIAGEM, MUITOS PORTOS
Adriana
Friedmann
OFERECER UM BRINQUEDO, UM JOGO, UMA BRINCADEIRA A UMA CRIANÇA É
UMA FORMA DE ESTARMOS PRESENTES NA VIDA DELA E DAR-LHE UMA PARTE DO NOSSO
TEMPO, DA NOSSA PRESENÇA. BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS SÃO TESTEMUNHOS DE
AFEIÇÃO E AMOR, QUE DESDE A MAIS TENRA INFÂNCIA, DIFICILMENTE ALGUÉM ESQUECE.
No decorrer do
último século, tem se falado, pensado, teorizado e pesquisado muito sobre o
brincar, o que não significa que o assunto tenha sido esgotado.
O que é, pois
esta viagem do brincar? Tantas definições e teorias através do tempo… Muitos
portos, alguns bem conhecidos e explorados; outros, ainda por “conquistar”.
Podemos considerar que o brincar está composto por vários
elementos:
- Uma ESTRUTURA,
com começo, meio e fim, que se mantém através das diferentes culturas e
civilizações.
- OS MEIOS
– Como brincamos, de que forma?
- OS FINS
– Brinca-se porque, para que? Pelo simples prazer de brincar? Para realizar
desejos? Para descarregar energias? Para compreender? Brinca-se de forma
espontânea ou direcionada?
-
CONTEÚDO(S) – os enredos, as temáticas que variam em função dos grupos, faixas
etárias e contextos.
- REGRAS –
ao mesmo tempo em que se perpetuam, podem variar de um grupo a outro. São a
essência do brincar. Mais flexíveis nas brincadeiras, mais rígidas nos jogos
estruturados.
- ESPAÇO –
que oportuniza ou atrapalha o desenvolvimento da brincadeira, sobre o qual
falaremos longamente logo mais.
- TEMPO –
não é o tempo dos relógios; não é o tempo planejado; não é o tempo consciente.
É simplesmente um tempo especial e precioso.
-
OBJETOS/BRINQUEDOS – antigamente, raros ou ligados à natureza. Hoje, cada vez
mais presentes, estímulos interessantes, porém, muitas vezes deturpando o
verdadeiro ato de brincar e incentivando mais o consumo. Objeto/Brinquedo, seja
artesanal, motivando o resgate, uma volta às raízes, ou industrializado,
valorizando-se cada vez mais sua qualidade. Os das crianças vão desde o próprio
corpo, os elementos da natureza, os brinquedos “de gente grande”, os
artesanais, os industrializados, a sucata, os eletrônicos até a imaginação… Os
dos adultos: nossos pertences materiais (aos quais somos muitas vezes apegados
demais!); nosso corpo; nossos sonhos; nossas imagens … Todos esses brinquedos e
objetos, escondem um simbolismo, uma mensagem, nem sempre explícita.
-
PARCEIROS – Antigamente o adulto brincava de forma indiscriminada com a
criança. Mais tarde, o brincar começa a caracterizar o cotidiano infantil e
ainda os adultos das classes populares brincam bastante. Com o surgimento da
escola, o brincar passa a fazer parte do pedagógico. O brincar do adulto
mistura-se com o jogo de azar. Na atualidade, a preocupação é resgatar o
direito e a oportunidade de todas as crianças brincarem. E o adulto começa a
procurar “do quê brincar” nos seus momentos de lazer, como uma forma de
aumentar sua auto-estima e desenvolver sua criatividade. Com quem nos
permitimos brincar? Com nossos alunos, com nossos filhos, no trabalho, na
família, com parceiros “virtuais”?
- UM COMPORTAMENTO LÚDICO – diz respeito às ações e reações
daqueles que brincam.
Brincar sempre foi essencial ao ser humano. E como bem expressou
Schiller “Um homem somente brinca quando ele é humano… E ele somente é humano
quando brinca…”
Historicamente o homem sempre brincou, através dos diversos
povos e culturas e no decorrer da história, sem distinção, nas ruas, praças,
feiras, rios, praias, campos… Mas, ao longo do tempo, as formas de
brincar, os espaços e tempos de brincar, os objetos de brincar e os brincantes,
foram se transformando.
Quando reflito a respeito de ESPAÇO penso, não somente no espaço
externo, mas também no espaço interior de cada ser humano: o quanto estamos
disponíveis internamente para deixar o brincar entrar nas nossas vidas. Penso
tanto no espaço físico quanto no espaço no tempo, na vida. Quando há espaço
interno, espírito lúdico interno, o espaço para o brincar acontecer, o espaço
externo surge de forma natural.
Nossa cultura tem um espírito lúdico por natureza e tem
acontecido, sobretudo na última década, um movimento de resgate do espaço de
brincar, tanto interno quanto externo.
Estudos e pesquisas na área do lúdico têm crescido mostrando
cada vez mais a importância fundamental que a preservação do espaço tem no
desenvolvimento, sobretudo da criança e do jovem.
A existência de espaços de brincar é importante para:
· a socialização e troca
entre os brincantes;
· o desenvolvimento físico,
cognitivo, emocional e moral das crianças e jovens;
· o estímulo da sua
criatividade;
· o despertar e o
desenvolvimento dos seus potenciais e habilidades;
· tornar os indivíduos mais
humanos;
· resgatar a essência
e os valores mais significativos de cada um.
Você reparou em quem está ao seu lado, na frente ou atrás? Olhe
para esta pessoa. Simplesmente olhe. Estabeleça um diálogo: com o olhar, com um
gesto, com uma delicadeza. E permita-se brincar.
O ato de brincar é um diálogo que o ser humano estabelece
consigo próprio, com o(s) outro(s) ou com um ou mais objetos. E é através desse
diálogo que o homem se conhece, se percebe e conhece o outro. Seja de forma
competitiva, quanto cooperativa, é a partir das trocas com o mundo que tomamos
consciência da nossa humanidade.
O brincar é também considerado como a expressão não verbal de
emoções, sentimentos, afetos. O brincar é uma descoberta, uma dúvida, um
exercício de paciência. O brincar é um movimento de despertar, uma entrega e,
ao mesmo tempo, uma tensão. O brincar é um “espelho de mim”, um confronto com
meu ser e com os outros.
Todos aqueles que criam, inventam e reinventam objetos estão, na
verdade, brincando: quem faz moda, quem inventa objetos utilitários, quem é
designer de móveis, brinquedos, estampas, até de casas. Então, quem é que não
brinca?
Todos brincam e não precisa ser artista, ou melhor, todos somos
artistas: brincamos com os sons, com o nosso corpo, com as cores ao combinarmos
as roupas que vestimos a cada dia; brincamos com o preparo dos alimentos; com o
espaço e os objetos das nossas casas; com os pensamentos; fazendo piadas; e a
lista fica interminável.
Podemos considerar o brincar como uma linguagem, através da qual
as crianças se comunicam, entre si e com os adultos. O brincar é um sistema de
signos que representa, de forma inconsciente, a vida real, sob o olhar daquele
que brinca (o jogo simbólico, por exemplo); o brinquedo ou os objetos
utilizados no jogo, representam uma ponte, um meio de comunicação. A linguagem
do brincar caracteriza-se pela sua universalidade: ela é tão antiga quanto a
existência do ser humano, atravessando o tempo e as fronteiras. Uma linguagem
que tem se perpetuado na sua forma, apesar dos seus conteúdos se transformarem.
O brincar pode ser lido e
interpretado de forma científica, acadêmica, analítica, clínica, universal,
histórica, regional, cultural, folclórica. E também sob um olhar místico,
ritualístico, simbólico, misterioso.