As férias me fez pensar que as crianças em casa acabam comendo mais porcarias do que o normal, sem contar com o tempo maior em frente a TV.
Por isso fui procurar um texto sobre sedentarismo e me deparei com esse texto super explicativo do Dr. Drauzio Varella, do qual sou fã, que além do sedentarismo trata da obesidade infantil.
Então, vamos nos informar para podermos educar e dizer o não com total fundamento.
Crianças obesas e sedentárias
Drauzio Varella
A obesidade infantil é uma
doença de consequências graves que se instala em múltiplos órgãos. Excesso de
gordura corpórea na infância é causa de diabetes, hipertensão, elevação dos
níveis de colesterol e triglicérides, tendência à coagulação acelerada do
sangue, alterações na parede interna dos vasos e maior produção de
insulina. A predisposição genética para a obesidade é um fenômeno
biológico de alta complexidade, que envolve interações de mais de 250 genes diferentes.
Além da genética, fatores pré-natais, como a obesidade materna e o excesso de
alimentos consumidos durante a gravidez, aumentam o risco de obesidade do
filho. Do mesmo modo, fatores ambientais predispõem ao ganho de peso excessivo
depois do nascimento.
Dois estudos demonstraram que
bebês amamentados com mamadeira correm mais risco de desenvolver obesidade no
futuro. A explicação pode estar relacionada à existência de algum componente
protetor presente apenas no leite materno, à preferência pelo paladar
ou à interferência de mecanismos psicológicos no centro de saciedade do bebê.
O índice de massa corpórea
(peso dividido pela altura ao quadrado) diminui do nascimento até os cinco ou
seis anos de idade, para depois aumentar gradualmente até a adolescência.
Quando fatores ambientais, como falta de atividade física e dietas de alto
conteúdo calórico, provocam aumento de peso que subverte essa regra geral,
surge predisposição à obesidade
na vida adulta.
A falta de atividade física
da criança urbana de hoje é considerada pelos especialistas uma das principais
causas da epidemia de obesidade infantil que se dissemina em diversos países,
inclusive no nosso. Um trabalho realizado na Cidade do México mostrou que
o risco de obesidade caiu 10% para cada hora de atividade física de intensidade
moderada ou forte praticada diariamente pela criança. Estudo semelhante
conduzido na Carolina do Sul chegou à mesma conclusão: crianças mais ativas são
mais magras do que aquelas que
se movimentam pouco.
O número de horas que a
criança passa diante da TV, entretida com programas infantis ou videogames,
está diretamente ligado ao aumento de peso. O trabalho realizado na Cidade do
México encontrou um aumento de 12% no risco de desenvolver obesidade para cada
hora por dia na frente da TV. Os autores concluíram que a TV aumenta o risco de
obesidade não só por desviar a criança das atividades físicas, mas por induzir
à ingestão de alimentos altamente calóricos.
Pesquisadores americanos e
ingleses contaram o número de comerciais na televisão que anunciam doces,
balas, chocolates, refrigerantes, biscoitos e outros alimentos de conteúdo
energético alto e chegaram à conclusão de que, nos seus países, cada criança
fica exposta a dez desses comerciais por hora. Outro trabalho comprovou que
crianças de três a cinco anos submetidas a esse bombardeio diário dos
anunciantes costumam escolher as guloseimas apregoadas na TV, quando são
oferecidas como opção frutas e outros alimentos saudáveis.
Neste momento, há grande
discussão na literatura médica a respeito da composição ideal da dieta
pediátrica. Nos últimos 30 anos, o consumo de gordura animal tem sido
diretamente responsabilizado não só pelo aumento de peso entre os adultos como
pela atual epidemia de crianças obesas. A ideia parece ter lógica porque as
gorduras são alimentos de alta densidade energética: um grama de gordura produz
nove calorias, enquanto um grama de açúcar ou proteína produz quatro calorias.
Os dados epidemiológicos, no
entanto, falharam sistematicamente na comprovação dessas teorias em crianças e
adolescentes – e também nos adultos. Ao contrário, a epidemia de obesidade
pediátrica se disseminou nos Estados Unidos apesar da redução do conteúdo de
gordura na dieta das crianças americanas ocorrida nos últimos 20 anos.
A diminuição do número de
calorias derivadas de gordura animal na dieta costuma ser compensada por um
aumento significante do consumo de carboidratos pelas crianças: pães, doces,
chocolates, refrigerantes, salgadinhos e batata frita passaram a ser ingeridos
em
quantidades sem precedentes na história da humanidade.
Esses alimentos de alto
índice glicêmico provocam súbitos aumentos pós-prandiais da concentração de
moléculas de glicose na corrente sanguínea. Em resposta, o pâncreas
secreta quantidades elevadas de insulina para quebrar essas moléculas e
armazená-las sob a forma de glicogênio. Armazenadas, as moléculas de açúcar
desaparecem da circulação,
e o centro da fome é ativado novamente.
Esse mecanismo biológico
explica por que, três horas depois do almoço farto em carboidratos do domingo,
assaltamos a geladeira famintos atrás do pedaço de pudim que sobrou.
A prevenção à obesidade é de
extrema importância para o desenvolvimento da criança. Chegar à vida adulta com
excesso de gordura no corpo, além de aumentar o risco de várias
doenças, dá início a uma batalha sem fim contra a balança. Uma afirmação de
consenso dos National Institutes of Health, dos Estados Unidos, ilustra como
pode ser inglória essa
luta: “Adultos que participam de programas de emagrecimento podem esperar uma
perda de apenas 10% do peso corpóreo, no máximo. Cerca de 50% dessa perda são
repostos em um ano, e, virtualmente, todo o resto é recuperado em cinco anos”.